sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Promoção da leitura: o empolgante exemplo angolano

Hoje, num jornal cujo nome não quero recordar, o advogado Francisco Teixeira da Mota escreve: "Por estes dias, em Luanda, está a escrever-se uma página triste do Poder Judicial angolano".
Na página anterior, um editorialista anónimo considera que o julgamento de um grupo de activista pró-democracia em Angola é "um triste simulacro de justiça".
Eu, que gosto de ver o lado positivo que há em todas as coisas (ou que, pelo menos, gosto de dar esta impressão quando me convém), defendo que ambas as análises estão inquinadas pela má fé, dando razão aos sempre perspicazes editoriais do Jornal de Angola (os quais, quando não são perspicazes, são, pelo menos, belas peças de humor e muito divertidos de ler). Para mitigar o colonialismo e a óbvia má vontade, bastaria, porém, que os articulistas ressabiados tivessem lido a página 27 do mesmo inominável diário.
Ali se lê que o juiz do processo dos activistas decidiu que o livro "Da Ditadura à Democracia", do norte-americano Gene Sharp, será integralmente lido na sala do tribunal. Ontem, por exemplo, já se escutou o conteúdo de 32 das 180 páginas que o compõem.
Em países civilizados como a Alemanha, as pessoas pagam para assistir a sessões públicas de leitura de livros, reconhecendo que tais espectáculos são importantes para uma formação cultural sólida. Em Angola, o estado social de José Eduardo dos Santos oferece gratuitamente sessões públicas de leitura, ainda por cima de livros de autores estrangeiros e abordando temas fracturantes, mas, ainda assim, tudo o que a gentalha consegue fazer é dizer mal.
E que tal se, em vez de procurarem criticar e desacreditar o Poder Judicial angolano, dessem o braço a torcer e elogiassem o exemplar programa de promoção da leitura?

P.S,: A gerência deste blogue faz votos para que, no próximo julgamento de um homicídio perpetrado contra uma senhora idosa, a instrutiva justiça angolana promova a leitura de Crime e Castigo, de Fiodor Dostoievski, na sala de audiência.