domingo, 18 de outubro de 2015

Chão em chamas















O romance "As Sereias do Mindelo" tinha sido editado há mais de um ano quando um jornalista galego, num programa de televisão gravado na Faculdade de Filologia de Santiago de Compostela, me perguntou por que motivo o livro tinha um capítulo relativo a cada mês do ano excepto aquele que caberia ao mês de Fevereiro. Eu não tinha reparado nessa ausência, nessa falha. Os editores e os revisores também não tinham notado. Nenhum leitor que eu conhecesse havia apontado esse lapso. No entando, a falha lá estava e era inegável: após os capítulos Dezembro e Janeiro vinha o capítulo Março. Na entrevista, respondi como pude, tentando dissimular a surpresa e o embaraço, mas é possível que a dúvida nunca me tenha abandonado. Ontem, enquanto escutava mais um dos monumentais concertos da Orquestra Jazz de Matosinhos (à qual só se dá a devida atenção e reconhecimento quando actua em Lisboa ou Barcelona), lembrei-me do conto "Crescendo and diminuendo in blue", inspirado num músico de jazz cabo-verdiano e que, de algum modo, é uma pequena sequela da história de nha Irene, uma das sereias do Mindelo. Mas só esta manhã, depois de acordar, é que as coisas acabaram de encaixar-se. "Crescendo and diminuendo in blue" é o capítulo perdido do livro que, caso estivesse completo, devia ter-se chamado "Chão em chamas" e que teria exactamente doze capítulos, um por cada mês do ano.