terça-feira, 13 de outubro de 2015

A tragédia, o caos, o apocalipse

Também eu estou em sobressalto. Tal como as bolsas, os mercados financeiros, a matilha selvagem dos interesses instalados e a gatunagem em geral, acordo de noite aterrorizado com a possibilidade de um governo que junte o PS e a esquerda parlamentar, a qual, conforme se sabe, tem o hábito perverso de devorar criancinhas e de não frequentar o arco da governação nem as arcadas do Terreiro do Paço. Os meus pesadelos passaram a incluir cenários em que os juros sobem impulsionados pela gárgula assustadora da Catarina Martins, em que as cotações do PSI 20 desfalecem à simples menção do nome de algum Jerónimo que não seja também Martins e em que a banca afunda assim que lhe "cheira a Syriza". Imagino e temo um cenário em que os drogados chiques da bolsa, em plena trip de coca, provoquem um pandemónio e levem as empresas a destruir postos de trabalho; que, enfim, também eu perco o meu emprego. Mas depois acordo e ocorre-me que já não tenho um emprego e que passei a ser um prestador de serviços a termo certo, felizmente não tão mal remunerado como a maioria dos que ainda trabalham e sobreviveram a quatro anos de um governo de coligação de dois partidos que também concorreram a eleições separados, mas que, pelos vistos, já então eram um só corpo e um só espírito juntos por um só programa sem diferenças nem divergências irrevogáveis. Acordo e quero que se forniquem todos os Barrosos e todos os Pires de Lima, mais as respectivas trombetas do apocalipse. Volto-me na cama e constato que é para o lado que durmo melhor.