segunda-feira, 6 de maio de 2013

Regozijo

Por motivos que não vêm ao caso, caiu-me hoje nas mãos o livro de um septuagenário que se dedicou, pelos vistos, a palmilhar os itinerários literários de Aquilino Ribeiro, seguindo-lhe não só os passos, mas também a ginástica da língua (salvas as devidas distâncias). Maravilho-me quando o português adquire uma sonoridade festiva, transumante, elegante e rústica, simultaneamente próxima dos caboucos medievais e das alegrias inventivas da língua nos antigos territórios ocupados pela macambúzia pátria; ou quando reconheço nas frases a fala dos meus avós e o soberbo português de Machado de Assis, Camilo ou Guimarães Rosa. Nos dias que correm, em todo o caso, tudo o que possa imediatamente distinguir-se dos comunicados do conselho de ministros é, por si só, motivo de regozijo farto.