terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Entre um Tino e um Relvas



Longe das câmaras de televisão, diante das quais já fez quase tudo (talvez até já tenha cantado a Grândola sem desafinar), Tino de Rans é um humilde calceteiro da Câmara do Porto. Tenho-o encontrado amiúde pelas ruas da cidade e, hoje, está a trabalhar à minha porta, empurrando carrinhos de mão cheios de cimento com um impermeável fluorescente, com a cabeça baixa, meditando lá nas suas coisas. Ao contrário de um certo sujeito seboso que também aparece muito na televisão, o Tino não precisa de afirmar sobre si mesmo que é impoluto e sério, nem que a vida dele é transparente. A vida dele, do Tino, é passada diante dos transeuntes do Porto. Nunca ninguém o viu a untar a barriga com protector solar à beira da piscina do Copacabana Palace (sem que se saiba onde embolsou coroas para luxos daqueles) e também não se conhece que tenha aprovado subsídios para projectos dos amigalhaços que hão-de ser primeiros-ministros. É um português que, muito provavelmente, conhece outros portugueses que estão desempregados e, por causa disso, não precisa de fazer demagogia com assuntos sérios para passar nos telejornais. Ao contrário do outro nojento, até teve um Neca que o aconselhasse a não se meter na política, se calhar num tempo e num lugar onde não passava pela cabeça das pessoas que se fosse para a política para enganar e enriquecer. Entre um Tino e um Relvas, eu, se me fosse perguntado o que acho, preferia mil vezes um país governado por um tipo amalucado com calos nas mãos.